19.2.08

Feira livre no ônibus

Sexta-feira. Volta do trabalho (trabalho, hein! não "serviço"! falar serviço é feio!).
Ônibus Santana. Zona sul (meu trabalho), fazendo meu caminho interminável até a Zona Norte (minha casa). Cheio (mas muito cheio mesmo!).

Subi no ônibus e fiquei ali entre um cano amarelo, um banco e uma das portas. "Perfeito! Aqui me protejo da superlotação e de quebra não atrapalho a passagem. Dá até pra abrir meu livro e ler...", pensei. (incrível como nesses momentos críticos conceitos como "conforto" ganham um significado todo novo...)

Eu lendo me desliguei completamente do resto. A única coisa que conseguiu me expulsar do quadrinho que eu lia foi um salto alto. Bem no meio do peito do meu pé direito. Sabe quando a pessoa até parece que mira no seu nervinho mais vulnerável e dá a pisada com gosto? Então. Mas sabia que não era de propósito. Respirei fundo. O Calvin ainda ia arrancar um esboço de sorriso meu. Era só eu me concentrar de novo na leitura. Fé, Fê. Fé.

"Ei! Ei! Vamo andá aí pessoal! Vamo tê respeito pelo próximo! Você já passou mas quem vem de trás também qué passá!" (é, realmente não ia ser possível voltar pro passeio de trenó do Calvin!). A mulher tava indignada com o acúmulo de gente na catraca. Acho que ela tinha um problema pessoal seríssimo com a catraca. Afinal o acúmulo de pessoas era generalizado!!!! PORQUE SÓ QUEM TAVA NA CATRACA OUVIU BRONCA? Claro! O problema só podia ser da catraca!!! E eu me apeguei a isso! Catraca maldita! Tinha um ímã-homo-erectus que só atraía bípedes com polegares opositores. Fenômeno incrível!

- Caaaalma, Dona! Não dá pra passar, não tá vendo? - Os seres humanos imantados pela catraca mutante protestaram, aí já viu. Virou feira!

- Vocêis num têm consciência. Respeito pelo próximo. Não pensam nos outros... (e não é que a dona engatou um papo cabeça?)

- Ihhhh, vai cuidá do seu marido e dos filho que a senhora ganha mais!

- Marido não tenho! Nem filho! Então tamo na mesma seu moleque! (como rezei pra ela emendar um "fanfarrão!")

- Ahhhhhhhhhhhh! Não tem marido? Então é esse seu problema, Dona! Vai arranjá um!!!! - essa veio de um senhor que tava láááá na frente e como eu, tava morrendo de vontade de acrescentar um cometário engraçadinho à discussão.

A feira livre prosseguiu. A discussão se extendeu por diversos pontos (incrível como em momentos como esse as unidades de medida de tempo mudam!). Tava tudo muito engraçado e eu tava quase suspeitando que tava fazendo parte de pegadinha ou coisa do tipo.
Eis que pra deixar aquele recorte de tempo espaço ainda mais paralelo, uma mulher com fones de ouvido começa a cantarolar (na verdade, gritar) a música que estava ouvindo. Sabe criança mal-criada que cantarola alto pra abafar a voz de quem tá dando bronca? Então. Só que se tratava de uma mulher de mais de 40 anos, com um olhar perdido de psicopata esbravejando alguma coisa que parecia ser Elis!!!!

Eu pego 3 ônibus diariamente há no mínimo 5 anos e já vi de tudo, acreditem. Mas aquela sexta-feira mereceu um post.

Se a mulher parou de cantar quando a briga parou? Não.

4 comentários:

juliana disse...

HAHAHAHAAHAHAHA... PQP! fe! muito bom! começou o dia bem :D hahaha...

rodrigostrada disse...

Sensacional!
Esse relato me faz lembrar das minhas aventuras em coletivos cariocas. De todos os momentos hilários e surreais desde saída de baile funk rolando pandadaria com os "alemão" até psicóticos, incendiadores, furadores de peito com caneta bic...

=P

um beijo

Unknown disse...

Ehhhhhhhh, três palminhas prô primeiro post da Fê!!!

Vamo que vamo...

Fê Dora disse...

Eu queria muito saber mais sobre os "furadores de peito com caneta bic"!!