23.2.08

O time lá de cima

"Mãe, pra onde é que as pessoas vão quando morrem?"

Eu não lembro de ter feito essa clássica pergunta pra minha mãe quando era criança. Talvez porque nunca tivesse parado pra pensar nisso. Ou talvez porque a certeza desse destino sempre tivesse existido dentro de mim. Não sei.

Quando a gente tem família, pai, mãe, irmãos, avós, primos, tios, cachorro, periquito, peixe, tartaruga e tudo que se tem direito, a idéia de se perder qualquer um desses membros soa insuportável. Mas essas perdas são assustadoramente inevitáveis e imprevisíveis.

Talvez por isso as perdas que sofri foram que nem tirar um band-aid colado nos pêlos do braço (e olha que meu braço é bem peludo!!!): rápido, pra sentir menos dor.

O primeiro que se foi foi o Huck, nosso periquito verde. Depois a tartaruga que morava num pedaço oco do tronco da árvore do jardim da frente. Os vizinhos dizem que foi o mendigo do bairro que levou pra fazer sopa. Tadinha!

Uns 10 anos mais tarde foi a cachorra, o outro cachorro que compramos depois dela e assim a família seguiu sendo desfalcada e renovada.

Foi então que em 2000 as perdas saíram do hall dos "animais de estimação" da família. Aí o bicho realmente pegou.

E só quando eles se foram me dei conta que nada compensaria aquele membro do nosso time vencedor que foi vendido subtamente pra um outro time centenas de vezes melhor, admito, só que não pertencente a esse mundo.
É, gostei de pensar assim! O passe da pessoa valorizou tanto, mas tanto, que ela mereceu ir pra um lugar infinitamente melhor. E foi!
Aí lascou de vez! Muito, mas muito trabalho interno pra não deixar a saudade impedir a gente de continuar jogando. Afinal, somos um time ainda. E os que ficaram? Precisam de cuidado redrobrado, oras! Nada de jogar a toalha!

Hoje fez um ano que minha vó teve o passe vendido pra um time desses grandes mesmo! Onde as condições de treino são bem melhores e todos os jogadores são igualmente importantes diante do melhor treinador que já existiu. Aposto que ela até recebeu cuidados médicos pra curar as cicatrizes que os jogos desse mundo deixou nela.

Quando meu filho me perguntar pra onde as pessoas vão quando morrem (caso ele nasça sem essa certeza), acho vou responder: "Praquele time lá de cima, que você deixou há pouco."

Acho que isso vai ser suficiente pra ele lembrar, não?

Assinado: Fedorinha

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